O Impacto do Endividamento das Famílias na Economia Brasileira
A economia brasileira é fortemente apoiada pelo comércio, e o consumo das famílias desempenha um papel crucial no crescimento do país. No entanto, para sustentar esse consumo, um número crescente de consumidores recorre ao mercado de crédito, seja por falta de capital, devido à cultura do parcelamento já enraizada no país ou para manter uma reserva de emergência.
No entanto, essa busca por crédito atingiu níveis alarmantes nos últimos anos, culminando em um aumento significativo do endividamento das famílias brasileiras.
O Endividamento em Alta
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (Peic) realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em setembro de 2022, o endividamento das famílias atingiu um recorde de 79,3%.
Isso significa que mais de três quartos das famílias brasileiras estavam endividadas naquele momento. Essa situação era impulsionada por diversos fatores, incluindo a facilidade de acesso ao crédito e a preferência por parcelar compras, prática que se tornou cultural no país.
No entanto, desde então, houve uma ligeira melhora nesse cenário. Em setembro de 2023, o nível de endividamento das famílias brasileiras caiu para 77,4%, o menor desde junho de 2022.
Essa redução pode ser um sinal positivo, mas é importante notar que o problema da inadimplência persiste. Muitas famílias relatam não ter condições de pagar suas dívidas em atraso, o que é uma preocupação significativa.
A inadimplência é um indicador crítico que afeta não apenas as famílias endividadas, mas também o sistema financeiro como um todo.
Inadimplência em Ascensão
O aumento do endividamento desde 2022 tem contribuído para o agravamento da inadimplência nos últimos meses. O indicador da Peic aumentou quase 1 ponto percentual desde setembro de 2022, e preocupantemente, 13% dos respondentes acreditam que permanecerão inadimplentes no futuro.
A alta inadimplência está relacionada não apenas ao maior número de endividados, mas também à diversificação do endividamento e às altas taxas de juros praticadas no mercado.
Além disso, muitos bancos estão adotando uma postura mais seletiva na concessão de crédito, o que torna ainda mais difícil para as famílias adquirirem novas dívidas.
O Dilema do Crédito
O crédito desempenha um papel crucial na economia, uma vez que estimula o consumo e, por consequência, o crescimento econômico. No entanto, quando os custos associados à dívida se tornam excessivamente elevados, a situação muda.
Altas taxas de juros podem dificultar o pagamento das dívidas, levando as famílias a priorizarem essas obrigações em detrimento de outras despesas, o que prejudica o ciclo de compras e, consequentemente, a economia como um todo.
Os juros médios em todas as modalidades de crédito com recursos livres para pessoas físicas atingiram seu pico em maio de 2023, chegando a 59,9% ao ano.
Felizmente, em agosto, houve uma queda, e essas taxas de juros diminuíram para uma média de 57,7% ao ano. Essa desaceleração tornou o mercado de crédito um pouco mais acessível, o que é uma boa notícia para as famílias endividadas.
O Programa Desenrola
Além da redução das taxas de juros, o governo federal está implementando o programa "Desenrola" para desnegativar as pessoas, o que tem o potencial de injetar novo ânimo no mercado de crédito.
Esse programa busca oferecer às pessoas a oportunidade de reabilitar seu histórico de crédito e, assim, melhorar sua capacidade de acessar novos empréstimos.
Além disso, a decisão do Banco Central de iniciar o processo de corte na taxa Selic já está impactando positivamente as taxas de juros negociadas no mercado. Isso cria uma tendência de melhoria na inadimplência e no acesso ao crédito, o que é uma notícia bem-vinda para as famílias brasileiras.
O Cenário Atual
Atualmente, as famílias brasileiras continuam cautelosas em adquirir novas dívidas e enfrentam dificuldades para pagar as dívidas já existentes.
No entanto, as medidas mencionadas acima devem começar a ser sentidas nos próximos meses, o que trará algum alívio para os consumidores e, consequentemente, para a economia como um todo.
Crescimento no Endividamento
O percentual de famílias que relatam ter dívidas a vencer avançou 0,2 ponto percentual em junho de 2023, atingindo 78,5% das famílias no Brasil.
Dessas famílias endividadas, 18,5% se consideram muito endividadas, marcando o maior volume da série histórica iniciada em janeiro de 2010, de acordo com a CNC. O aumento do endividamento interrompeu uma sequência de quatro meses de estabilidade desse indicador.
Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a economia brasileira enfrenta um cenário de crescente endividamento e inadimplência, o que impacta negativamente na capacidade de consumo das famílias.
A busca pelo equilíbrio entre a estabilidade de preços e o crescimento econômico é um desafio que deve ser enfrentado para impulsionar o desenvolvimento do Brasil.
Comprometimento da Renda
Mesmo com o aumento do endividamento, a parcela média da renda comprometida com dívidas registrou o menor percentual desde setembro de 2020, atingindo 29,6%.
Isso sugere que, apesar do aumento do endividamento, as famílias brasileiras estão, de certa forma, administrando melhor suas finanças, buscando reduzir o impacto das dívidas em relação à renda disponível.
O Domínio do Cartão de Crédito
O cartão de crédito ainda é a modalidade predominante de dívida, com 86,2% das famílias endividadas tendo contas a pagar por meio desse método. Isso representa um aumento em relação a setembro de 2022, quando avançou 0,6 pontos percentuais.
No entanto, os juros do rotativo do cartão alcançaram níveis alarmantes, com uma média de 445,7% ao ano. Essa é a maior alta entre todas as modalidades de dívida, o que torna o uso do cartão de crédito uma escolha financeiramente desafiadora.
Dados do Banco Central também indicam um aumento na concessão de crédito no cartão em comparação com agosto de 2022, com um aumento de 10% nos pagamentos à vista e 28% nos pagamentos parcelados.
Esse cenário é preocupante, pois demonstra que, apesar dos altos juros, as famílias continuam recorrendo ao cartão de crédito como uma forma de financiamento.
Diferenças de Gênero
Há diferenças significativas no comportamento de endividamento entre os gêneros. Enquanto os homens aumentaram seu endividamento anual em 2,3 pontos percentuais, as mulheres conseguiram diminuir em 1,8 pontos percentuais.
No entanto, no mês analisado, a proporção de homens endividados teve um leve recuo de 0,1 ponto percentual, enquanto a das mulheres se manteve estável em 79,1%.
Além disso, as mulheres enfrentam mais dificuldades para quitar suas dívidas em comparação aos homens, com 30,6% relatando problemas em relação a 29,6% dos homens. Isso pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo a diferença de renda, preferências por modalidades de dívida com taxas de juros mais baixas e a busca por alternativas fora das linhas de crédito tradicionais.
O endividamento das famílias brasileiras e a inadimplência são questões críticas que afetam a economia do país. Embora haja sinais de melhoria, especialmente com a redução das taxas de juros e a implementação do programa "Desenrola", é importante que as famílias continuem a gerenciar suas finanças com responsabilidade.
O equilíbrio entre o consumo e o endividamento é fundamental para garantir um crescimento econômico sustentável. Ainda há desafios a serem superados, mas as medidas recentes indicam uma tendência positiva que pode beneficiar tanto os consumidores quanto a economia brasileira como um todo.
É essencial que as famílias continuem a monitorar e ajustar suas dívidas para garantir um futuro financeiramente estável.
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Autor: Karina Icoma
Publicado para: Pegatroco
Em 16/10/2023